sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Por Que Ler Cecília?




Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.
(Cecília Meireles)



A carioca Cecília Meireles (1901-1964) é uma daquelas figuras pertencentes ao diminuto círculo de poetisas que deveria ser leitura obrigatória para se buscar sentir e dimensionar o universo feminino.

Em Cecília coexistem os dramas existenciais refletidos numa mulher (ninguém está imune aos descaminhos, paradoxos e desventuras do self) com o despojar de um clima moderno sem se prender aos estigmas de uma escola literária em particular. Há em seus versos um tom de melancolia sem recair no abatimento e simbila um terno contato com a necessidade de soerguer diante das adversidades. Sobretudo reina em sua poesia um modernismo universalizante que todo grande autor carrega consigo.

Com um mergulho despojado em Cecília, o leitor terá bons subsídios para conhecer as particularidades de um mundo. Aqui, cabe ressaltar as agruras para construir um mecanismo de entendimento do imaginário feminino para os que desafiam adentrar neste minado campo. Sem menosprezar a capacidade de muitos poetas e não carregar simplistas generalizações, caberia então as poetisas darem sua pertinente contribuição neste universo e externalizar em versos as complexidades do labirinto tear psiquíco da mulher.

É preciso ler os versos de Cecília não como nas enfadonhas obrigatoriedades de leituras de vestibulares, mas simplesmente pelo prazer de percorrer os olhos em sua escrita. Com uma linguagem clara, forte e emotiva, é possível adentrar no mundo muito particular de introspecção do imaginário sensível da autora e, a partir daí, tecer a possibilidade de construir um esboço de auto-análise por parte do leitor.

Num mundo marcado por uma cultura perversamente narcísea e relacionamentos afetivos cada vez mais estéreis e mercatilizados, todos os rumos parecem levar o indivíduo a descrença e a apatia. No subterrâneo da angústia presente debaixo do travesseiro, Cecília poderá ser um alento para os que procuram alguma saída possível ou para os que ainda não perceberam o elo de ruptura entre a realidade e a autofagia. Cecília poderá ser uma leitura docemente aprazível e libertária ou ardidamente penosa. Contudo, o caminho a ser seguido dependerá do estado de espírito do leitor e a visão de si diante do espelho.


* * *


Nem tudo é fácil
(Cecília Meireles)

É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste.
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia.
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar.
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar?
Se alguém reclama de você, ouça...
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível
Precisamos acreditar, ter fé e lutar
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos,
realidade!!!

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